Leona Vingativa, ISLU e o excesso de lixo nas ruas de Belém

Apesar de tom humorístico nos vídeos, celebridade da internet traz à tona um problema de muitos municípios brasileiros

Você conhece a Leona Vingativa? Leona é uma cidadã de Belém do Pará que viralizou na internet por meio de suas paródias de músicas para apontar os problemas sociais na sua cidade. Bom, não só da sua cidade, mas de tudo que possa se tornar um vídeo de humor. Não à toa, a cantora/atriz já é uma celebridade na internet e milhares de seguidores acompanham seus videoclipes. Apesar de humorísticos, os vídeos dela trazem consigo uma reflexão.

Lixo na sua Cara! – é o nome da música mais famosa da Leona, na qual ela faz uma paródia da música Na sua Cara, da Anitta. Além da performance peculiar glamourosa de Leona, o vídeo mostra a realidade do lixo em Belém, no Pará, sua terra natal. Durante os dois minutos e quarenta segundos de vídeo, a cantora dança e canta entre as valas da cidade, que acumulam montanhas de lixo descartados irregularmente e demonstra um pouco a realidade da capital do Pará, claro, com muita “elegância”! Garrafas pet, fraldas, rodas de bicicleta, resto de materiais de construção, a lista de resíduos e rejeitos encontrados no clipe de Leona vão longe! Até com uma poltrona de lixo a atriz tem o prazer de deleitar.

Belém está entre as 10 piores cidades no Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana (ISLU) – Para quem possa achar que todo o lixo faz parte da cenografia da produção do vídeo, está enganado. O lixo é real. Bem real, na verdade. A questão na cidade de Belém vem se tornando cada vez mais presente na vida dos cidadãos. E é possível entender essa situação mais de perto se analisarmos o ISLU – Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana -, que foi criado em 2016 pelo Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana (Selurb) e pela Pwc, com o objetivo principal de medir a aderência dos municípios em relação ao cumprimento das metas e diretrizes estabelecidas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

Em outras palavras, ele serve como um termômetro para avaliar o quanto os municípios destinam recursos para sua gestão de resíduos sólidos.

A edição de 2017 demonstra que dos 5.568 municípios brasileiros, 3.326 ainda descartam seus resíduos incorretamente e, por ano, 41,3% dos 79 milhões de toneladas de resíduos produzidos vão para vazadouros a céu aberto.

Cada cidade é avaliada em quatro dimensões, que juntas, compõem a nota geral de um município. São elas: engajamento (dimensão E), sustentabilidade financeira (dimensão S), impacto ambiental (dimensão I) e recuperação de recursos coletados (dimensão R). Por fim, a média das quatro dimensões nos trazem um resultado final, que vai de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior é a aderência do município à PNRS.

Na mais recente edição do índice, a cidade de Belém, do Pará, apresenta os seguintes números:

10 piores cidades ISLU 2017 (2)

Se formos interpretar esses dados, é possível ver que a população atendida pela coleta municipal e a questão da arrecadação especifica para despesas com o serviço (dimensões E e S) apresentam uma boa média, em contrapartida, a quantidade de resíduos dispostos inadequadamente e a quantidade de material reciclável recuperado (dimensões R e I) estão realmente muito abaixo do que deveriam estar. Em todo o caso, a nota da cidade no ISLU 2017 foi de 0,484, menos da metade do que o valor que um município deveria apresentar para corresponder as exigências da Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Os municípios da região Norte do Brasil ocupam as 20 piores posições no ranking entre as cidades com mais de 250 mil habitantes. Para ser mais exato, Belém é a cidade em primeiro lugar entre as 10 piores cidades:

10 piores cidades ISLU 2017 (1)

No começo do ano, a Prefeitura Municipal de Belém reconheceu que a coleta de lixo não estava sendo feita em diversos bairros da cidade, o que ilustra bem porque o cenário da Leona era tão farto em lixo. Apesar do tom humorístico adotado pela cantora, o vídeo é uma forte crítica e coloca em cheque a questão de resíduos sólidos nos munícipios brasileiros. Não deveria ser comum que as pessoas convivessem “em harmonia” com tanto lixo assim ao redor, não é mesmo? Essa é uma realidade de muitas cidades brasileiras, que por muitas vezes, por não ter uma taxa de arrecadação específica para a gestão de resíduos sólidos, tem o serviço precariamente prestado.

Portanto, cabe aos cidadãos fiscalizar, cobrar de suas prefeituras e fazer sua parte para mudar esse cenário. Não que todos precisem necessariamente produzir um videoclipe com um figurino brilhante e extravagante, dançando no meio do lixo para chamar a atenção do problema, mas sim, colaborar com hábitos mais sustentáveis – não descartar sofás e outros objetos em vias públicas, fazer a coleta seletiva, reutilizar e reciclar os produtos, gerar menos lixo diariamente, entre outras maneiras de colaborar para um ambiente impoluto para todos.

Se você quiser conhecer mais sobre o ISLU e como as cidades se comportam para atender a Politica Nacional de Resíduos Sólidos, clique aqui para ter acesso a versão digital de 2017.

O quão sustentável sua cidade é? Ela atende bem a determinação da PNRS? E você, está fazendo sua parte para que sua cidade seja mais limpa?

Fonte: Folha, ISLU, Diário Online

Leia mais: Medir para aperfeiçoar: segunda edição do ISLU revela avanços na sustentabilidade da limpeza urbana

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