Fortaleza tem aterro sanitário com umas das maiores produções de biogás no Brasil, mas coleta seletiva precisa avançar

Município vem evoluindo no cumprimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos, mas população ainda não participa ativamente

O ano de 2018 marcou a inauguração da maior usina do Brasil a converter biogás de resíduos urbanos na produção de gás natural renovável (GNR), com investimento de R$ 100 milhões.

A estrutura está localizada dentro do Aterro Sanitário Municipal Oeste de Caucaia, localizada na Região Metropolitana de Fortaleza, e recebe diariamente cerca de 3 mil toneladas de resíduos sólidos.

A GNR Fortaleza, como ficou batizado a central de produção de gás natural, tem capacidade para produzir aproximadamente 80 mil m3 de biometano. A previsão, no entanto, é expandir esse volume para até 150 mil m3 diários – o suficiente para abastecer com gás natural veicular (GNV) mais de 10 mil automóveis por dia. O modelo de negócios presente na estrutura se adequa à Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada e sancionada em 2010.

“O Brasil apresenta um enorme potencial para esse tipo de combustível renovável, com mais de 250 mil toneladas de lixo produzidas diariamente. Hoje, parte relevante do volume de biogás acaba se perdendo na atmosfera”, diz Carlos de Mathias Martins Jr., diretor executivo da Ecometano, empresa responsável pelo empreendimento.

Além da geração de biometano, usinas de biogás também evitam o lançamento para a atmosfera de gases nocivos resultantes da decomposição natural do lixo. “Antes, o gás produzido no aterro de Caucaia era desperdiçado, sendo queimado ou emitido para a atmosfera. Com a GNR Fortaleza, além de suprir cerca de 30% das necessidades de gás natural do estado, vamos reduzir a emissão do metano, que é 21 vezes mais nocivo como gás de efeito estufa do que o CO2 (dióxido de carbono)”, explica Thales Motta., gerente de implantação de projetos da Ecometano.

O aterro vai vem, obrigado. Mas e a coleta seletiva?

Apesar de todo o trabalho de reciclagem energética que o estado vem investimento, a coleta seletiva do município ainda tem de avançar. Hoje, apenas 0,9% dos fortalezenses encaminham os resíduos para um dos 63 Ecopontos da cidade. Essa porcentagem representa cerca de 24 mil cidadãos.

De acordo com o coordenador de Limpeza Urbana da Secretaria de Conservação de Serviços Públicos (SCSP), Albert Gradvohl, já há planejamento e recursos para a instalar até o final do próximo ano um Ecoponto onde o serviço ainda não chegou. A expectativa é de, até o fim de 2020, todos os 119 bairros da Capital terem um desses equipamentos.

Fortaleza apresentou uma melhora na edição de 2019 do Índice de Sustentabilidade de Limpeza Urbana (ISLU) em relação aos anos anteriores. Muito desse progresso se deve as boas práticas de desenvolvimento e destinação correta do aterro da cidade. No entanto, para que o município caminhe de vez para um modelo mais sustentável, é necessário que a população caminhe junto nessa estrada. Marcílio Oliveira Moura, engenheiro ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC), destaca a necessidade de uma campanha constante de educação ambiental. O especialista defende que parte da população não conhece como funciona a separação do lixo e outras até têm vontade de fazer, mas a destinação restrita dificulta.

“Uma das grandes preocupações na geração de resíduos é o impacto gerado no meio ambiente. Com a coleta seletiva é possível evitar que boa parte (deles) seja direcionada a aterros sanitários. Com isso, a gente prolonga a vida do aterro, fazendo chegar lá só aquilo que não pode ser reutilizado, reciclado ou recuperado”, destaca Marcílio.

Fonte: Índice de Sustentabilidade de Limpeza Urbana, Ciclo Vivo, O Povo.

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