Do lixo para as grandes competições esportivas

Marcas famosas e até os Jogos Olímpicos estão utilizando insumos que antes eram considerados descartáveis nos processos de fabricação de produtos 

Conteúdo O Estado de S. Paulo

Os organizadores dos Jogos Olímpicos de Tóquio e as principais empresas de materiais esportivos do mundo abraçaram de vez as causas ambientais, e não somente nos processos de produção. Para além de utilizar energia limpa ou reduzir as emissões de CO2 na atmosfera, eles estão usando materiais recicláveis para produzir tênis, camisetas, bolas e até medalhas e camas para os atletas que estarão no Japão.

No caso da Olimpíada de Tóquio, o Comitê Organizador assumiu a responsabilidade de apresentar modelos de soluções de sustentabilidade dentro do conceito 3R (reduzir, reutilizar, reciclar). O maior exemplo são as 5 mil medalhas de ouro, prata e bronze que serão entregues aos competidores. Elas fazem parte do esforço da organização para reduzir as emissões de carbono geradas pelos Jogos e foram produzidas através de 78 toneladas de produtos eletrônicos doados por moradores do próprio Japão, como telefones celulares, computadores e tablets quebrados.

Nesta nova realidade, o COI (Comitê Olímpico Internacional) chegou a lançar um guia para ajudar as entidades esportivas a organizar eventos mais sustentáveis, abordando questões como mudanças climáticas e perda de biodiversidade. “A comunidade esportiva global tem a responsabilidade e a oportunidade de deixar o mundo em melhores condições para as gerações futuras”, diz a diretora de Desenvolvimento Corporativo e Sustentável do COI, Marie Sallois.

Ainda dentro da proposta de mostrar como a tecnologia pode se aliar à sustentabilidade, a tocha olímpica foi feita de resíduos de alumínio e os pódios onde os vencedores estarão na entrega das medalhas, de resíduos plásticos. Já as 18 mil camas que serão usadas pelos atletas na Vila Olímpica foram fabricadas de papelão. Segundo os organizadores, a mobília é mais resistente do que as tradicionais, de madeira, e ainda contribui para o plano de redução de gastos para o evento olímpico, reforçado em função da crise econômica decorrente da pandemia do novo coronavírus. Além, claro, da certeza de que nenhuma árvore foi derrubada para isso.

Empresas mundiais abrindo os olhos para o problema

Empresas as redor do globo vem transformando também seu processo de produção, levando em conta uma conduta sustentável.  No mundo do futebol, o destaque de sustentabilidade fica por conta da bola S11 Ecoknit, produzida pela Penalty. Cada bola usa 4½ garrafas PETs, coletadas por cooperativas de reciclagem, que vendem o material para empresas de fiação têxtil. As PETs são lavadas, trituradas e seguem para o processo de polimerização, ou seja, produção do chip de poliéster, que dá origem ao de filamento usado em tecelagens e malharias. Daí, nasce o fio de poliéster que a Penalty desenvolveu para a confecção da S11 Ecoknit.

“O maior desafio ao tratar de materiais reciclados é promover e garantir propriedades de alta performance igualando e, neste caso, superando produtos com materiais ‘virgens’. Esse é o ponto mais desafiador”, diz Nilton Franco, gerente executivo de produtos da Penalty. De quebra, movimenta a cadeia de coleta de garrafas PETs espalhadas pelos lixos das cidades.

A Nike, uma gigante americana dos esportes, também obtém poliéster por meio de fibra de garrafas plásticas desde 2010, quando apresentou essa inovação nas camisas para a Copa do Mundo de futebol. Isso implica na redução de 30% do consumo de energia na sua produção. Com essa inovação, a empresa já retirou mais de 7,5 bilhões de garrafas PETs de aterros sanitários. A empresa ainda conta com a coleção de tênis Space Hippie também se utiliza de restos reaproveitados para fazer o calçado. A empresa explica que a escolha dos materiais, embalagem e até o método de produção leva em conta o impacto ambiental. “O resultado são os tênis que menos produzem carbono da história da marca”, diz.

Na adidas, cada produto da coleção feita em parceria com a Parley for the Oceans, que utiliza resíduos plásticos retirados do mar, tem ao menos 40% de materiais reciclados na composição. Foi a partir dessa inovação que a fabricante alemã de produtos esportivos criou a coleção PrimeBlue, que tem camisetas, shorts, tênis e outras peças confeccionados a partir da reciclagem tendo como matéria-prima principal os lixos plásticos transformados em poliéster.

A Puma usa plástico reciclado e impressão digital para diminuir a utilização de produtos químicos em suas fábricas. “Embora um dos principais benefícios dessa parceria seja o impacto social, o programa Puma e First Mile reciclou mais de 40 toneladas de resíduos plásticos de aterros e oceanos, apenas para os produtos fabricados para 2020. Isso se traduz em 1.980.286 garrafas plásticas sendo reutilizadas. Todo o vestuário da marca é feito com pelo menos 83% dos fios mais sustentáveis provenientes da First Mile”, explica Stefan Seidel, chefe de sustentabilidade corporativa da Puma Global.

Nike, adidas e Puma possuem pilares na sustentabilidade e têm práticas de divulgar relatórios com informações bem detalhadas sobre o que suas fábricas fazem para diminuir a emissão de carbono e resíduos nos processos industriais, como o Relatório da Nike do ano fiscal 2019, que detalha dezenas de ações. Na adidas existem inclusive metas para as próximas décadas para eliminar o desperdício de plástico enquanto a Puma utiliza o algodão da Better Cotton Initiative, que reduz significativamente o uso de água na produção das matérias-primas.

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