Com medo de contaminação, descartáveis plásticos voltam a surgir no mundo

Com a pandemia de coronavírus, pessoas de todo mundo aderem novamente embalagens plásticas. Até onde a medida pode ser prejudicial?

Nos últimos meses, o mundo levantou um grande sinal de alerta ao excessivo uso de plástico em nossa cadeia produtiva, começando a traçar os primeiros passos expressivos na luta pela diminuição (ou até extinção) do uso desse tipo de material.
No entanto, no meio do caminho surgiu uma pedra (e uma das grandes): a pandemia do novo coronavírus, e, junto com ela, as exigências de uma nova conduta de proteção sanitária por parte da população. Por conta da facilidade na disseminação do vírus, as pessoas viram a necessidade do retorno de embalagens plásticas, em troca de mais segurança face ao risco de contrair a covid-19. Além disso, junto com o retorno das embalagens, surge uma nova gama de produtos de higiene e proteção, como como luvas, máscaras e frascos de álcool gel, e todo o equipamento hospitalar necessário para enfrentar a alta das internações.

Novo cenário, velho conhecido

Apesar do mundo viver dias jamais vividos antes, o plástico já é um velho conhecido da sociedade e os malefícios advindos dele também. Entretanto, uma pesquisa realizada em 2019 pelo Fundo Mundial para a Natureza revelou que o Brasil parece não conhecer tão bem assim quais são esses prejuízos.
De acordo com o levantamento, somos o 4º maior produtor de lixo plástico do mundo, atrás apenas de Estados Unidos, China e Índia. Ainda de acordo com o relatório, o nosso país é um dos que menos recicla, apenas 1,2% do material, ou seja, 145.043 toneladas.
Outros números demonstram como o plástico está longe de ser um real problema a ser encarado pelo governo brasileiro:

• Brasil produz 11.355.220 milhões de toneladas de lixo plástico por ano;
• Cada brasileiro produz 1 kg de lixo plástico por semana;
• Somente 145.043 toneladas de lixo plástico são recicladas;
• 2,4 milhões de toneladas de plástico são descartadas de forma irregular;
• 7,7 milhões de toneladas ficam em aterros sanitários;
• Mais de 1 milhão de toneladas não é recolhida no país;

No entanto, dentro deste delicado contexto sanitário, entidades de proteção global se esforçam em chamar a atenção para boas práticas mesmo sob tempos de coronavírus – afinal, a pandemia um dia estará sob controle, mas o plástico levará séculos para deixar de poluir o meio ambiente.
“O uso de descartáveis pelas pessoas voltou como um reflexo automático, porque dá a impressão de uma suposta segurança, como se tudo que estivesse embalado em plástico estivesse protegido”, comenta a diretora de comunicação da organização internacional Zero Waste na França. “Os lobbies do plástico aproveitam esse momento de crise para voltar com a ideia de que é o material mais higiênico e é a melhor solução para se proteger do vírus, um argumento no qual eles insistem há muito tempo. Mas não podemos deixar de lado as alternativas e lembrar que o mais importante de tudo é estar sempre lavando as mãos, usar máscara e higienizar as superfícies que encostamos”, explica Marine.

O perigo do retorno das sacolas plásticas

No começo da crise, representantes do setor se apressaram a promover uma campanha global segundo a qual “o plástico salva vidas” neste momento de pandemia. Mas a impressão de segurança pelo uso de descartáveis é uma mera ilusão, já que o vírus permanece por até três dias sobre os plásticos, um dos materiais onde essa sobrevivência é mais longa.

Mesmo assim, nos supermercados da Europa, as sacolas descartáveis reaparecerem. Muitos clientes ficam com receio de usar sacolas reutilizáveis, já que elas poderiam estar transportando o vírus.

“As sacolas de pano são as únicas que podemos lavar nós mesmos e levar conosco, sem risco. Além disso, muitos mercados estão higienizando as sacolas dos clientes na entrada da loja”, frisa a representante da Zero Waste. Da mesma forma, pela praticidade, muitas pessoas acabam preferindo as máscaras descartáveis às alternativas em pano, laváveis.
Na França, a associação de fabricantes de plásticos Elipso indicou que 50% deles – a maioria produtores de embalagens para a alimentação – registram alta na atividade. Para um quarto, o aumento é de pelo menos 10%, podendo chegar a 20%.

Na Europa, no Brasil e no mundo todo

grande perigo nesta “aceitável” volta do plástico é que medidas visando limitar o uso do material possam ser canceladas ou pelo menos adiadas pelos governos, comprometido anteriormente com esta agenda pró meio ambiente. Um exemplo é a França, que votou no início do ano uma nova Lei contra o Desperdício, que incluía a proibição de uma série de produtos descartáveis, como copos, talheres e canudos. A União Europeia previa para o ano que vem a adoção de uma medida semelhante.
O temor também é iminente no Brasil, que também já tinha dado passos largos em direção ao banimento do uso excessivo ao uso de plástico, como as leis em vigor nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, que proíbem o uso de canudos e sacolas plásticas em determinados estabelecimentos comerciais.
É fundamental que todos atentem-se a esta questão e continuem fazendo sua parte na eliminação de plásticos de uso único, para que este velho inimigo não passe a ser um “suposto” novo amigo da população.

Fonte: G1, UOL, WWF

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