Destinação incorreta de lixo mata animais marinhos a 80 km de São Paulo

Por ano, 25 milhões de toneladas de lixo vão parar nos oceanos

A quantidade de plástico no mar está prejudicando a vida marinha e causando a morte ou sérios acidentes aos animais aquáticos. Todo ano, 25 milhões de toneladas de lixo vão parar no oceano, de acordo com estudo divulgado em 2018 pela Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA). Deste montante, o Brasil colabora com 2 milhões de resíduos. Segundo a ONU, de 60% a 80% de todo esse material no mar é plástico. Até 2050 é previsto que haja mais resíduos plásticos no mar do que peixes, se o consumo não for contido.

As mortes de animais causadas pelo lixo no mar têm ocorrido a apenas 80 km da capital paulista, nas praias da Baixada Santista. Em dezembro de 2018, uma toninha, espécie de golfinho comum no litoral da região sudeste, morreu por estar com um lacre de garrafa preso na boca. O caso aconteceu na Praia Grande, litoral paulista. O animal também possuía grande quantidade de microplásticos no estômago.

O veterinário Rodrigo Valle, do Instituto Biopesca, que tentou salvar a toninha, disse que estão ficando mais frequentes os casos de animais encontrados mortos na água ou encalhados na praia. Contando com este caso, o Biopesca registrou 13 mortes dessa espécie nas praias da Baixada Santista nos últimos três anos. “Encontradas desde o Espírito Santo até a costa da Argentina, o desaparecimento das toninhas em razão dos resíduos tem contribuído para a extinção desse tipo de golfinho”, explica Valle.

As tartarugas marinhas também estão entre as que mais sofrem com a ingestão de plásticos no mar. Exames realizados com as espécies que ficaram encalhadas já sem vida no litoral sul de São Paulo e foram resgatadas pelo Instituto Biopesca mostraram que cerca de 98% dos intestinos de 516 tartarugas marinhas continham algum tipo de resíduo plástico.

Não muito longe do instituto, a cidade do Guarujá é sede de outra ONG de resgate a animais marinhos, o Gremar. O local cuida dos animais que encalham nas areias da Baixada Santista. A equipe atua 24h por dia com o objetivo de atender o mais rápido possível ocorrências envolvendo animais feridos, encalhados ou em óbito.

“Quanto mais ágeis nós formos no atendimento, mais chances a espécie tem de sobreviver. Porém, quando falecem, posso afirmar que 90% das mortes são causadas pela interação desses animais com o plástico. Está muito difícil hoje em dia constatar falecimento por causas naturais”, explica a bióloga responsável pelo instituto, Rosane Farah.

Rosane conta que na autópsia já foram retirados dos animais objetos como: sacolas plásticas, canudos, papéis de bala, tampinhas de garrafa pet, sapatos de boneca, bitucas de cigarro e resquícios de redes de pesca.

Pesca Fantasma

O nome pesca fantasma é dado às redes de pesca que são abandonadas em alto mar por pescadores e que continuam “pescando sozinhas” os animais. Como estão boiando pelo oceano, esses apetrechos são um problema grave que acarretam na morte de espécies aquáticas.

O oceanógrafo Alexandre Turra, referência no Brasil em pesquisas em lixo no mar, confirma que 20% dos itens encontrados no oceano são redes de pesca fantasma e que cerca de 80% dos materiais são provenientes de atividades na terra. A má gestão pública dos resíduos sólidos e o hábito de jogar o lixo fora da lixeira contribuem com esse cenário alarmante. “O descarte incorreto do lixo tem grandes possibilidades de terminar no mar, por isso que vemos tartarugas com cotonetes ou canudos enroscados pelo corpo”, explica Turra.

O especialista afirma que a simples atitude de jogar o lixo na lixeira já ajuda muito para a sobrevivência dos animais marinhos. Ao ir à praia, leve um saquinho para guardar o próprio resíduo e, se possível, troque os canudos plásticos, por opções mais sustentáveis, como os biodegradáveis ou de vidro, alumínio e bambu.

“O mundo ideal seria que todo o lixo gerado, seja na praia ou qualquer outro lugar, fosse reciclado e não parasse no mar. O caminho da reciclagem é o que devemos seguir”, conclui o oceanógrafo.

 

Fonte: Recicla Sampa

 

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