Nigéria x lixo eletrônico. Quem leva a melhor?
A Nigéria é famosa por ser o país mais populoso de todo o continente africano, com uma população que ultrapassa os 148 milhões de habitantes, composta de mais de 250 grupos étnicos. Só que infelizmente, o país também é conhecido por uma outra marca: um dos principais destinos mundiais de lixo eletrônico.
Ao lado de Gana, a Nigéria recebe anualmente 71 mil toneladas de bens de consumo usados em dois de seus principais portos. Os produtos vêm de países da União Europeia e de outras economias mais industrializadas. A lei nigeriana proíbe a queima de cabos plásticos, bem como a lixiviação ácida e outros métodos comuns usados por catadores para recuperar metais valiosos de eletrônicos descartados.
Mas a pouca fiscalização e a baixa conscientização sobre os riscos da prática faz com que a maioria dos catadores continue regularmente se expondo a toxinas que causam problemas respiratórios e dermatológicos, infecções oculares, problemas de desenvolvimento neurológico e, em última análise, vidas mais curtas.
“A Nigéria é um destino atraente para os exportadores de resíduos, em parte devido à aplicação limitada de restrições à importação e outros regulamentos”, declarou a oficial de programa da ONU Meio Ambiente, Eloise Touni.
Muitas vezes escondidos ou falsamente declarados, os resíduos eletrônicos entram na Nigéria através de dois portos em Lagos e por rotas terrestres de países vizinhos antes de encontrar o caminho para locais como Olusosun, o maior lixão do país. Com 100 acres cheios todos os dias por 10 mil toneladas de lixo, incluindo lixo eletrônico, Olusosun é local de trabalho dos catadores, em busca de materiais que podem ser quebrados e vendidos no mercado informal.
“Alguns dos resíduos eletrônicos vindos do exterior são compostos por TVs de raios catódicos, que contêm chumbo, assim como geladeiras e aparelhos de ar-condicionado contendo hidroclorofluorcarbonos, o que o torna uma ameaça para aqueles que estão desmantelando e manuseando esses produtos”, disse Touni.
Em parceria com a Agência Nacional de Normas Ambientais e Regulamentação da Nigéria, Touni coordena um projeto de Abordagem de Economia Circular para o Lixo Eletrônico na Nigéria, uma ambiciosa iniciativa multimilionária de três anos com o objetivo de ver o país adotar uma abordagem de economia circular financeiramente auto-sustentável para o setor.
Responsabilizando-se pelo lixo
A legislação nigeriana para a indústria eletrônica responsabiliza os fabricantes por todo o ciclo de vida de seus produtos — enfatizando uso prolongado, prevenção de resíduos, reciclagem e recuperação — com o objetivo de minimizar o impacto na saúde humana e no meio ambiente.
Na Nigéria, a aplicação da legislação existente sobre a responsabilidade ampliada dos fabricantes foi até agora dificultada pela complexidade do mercado local e pela falta de um organismo de âmbito industrial para apoiar uma maior formalização do setor da reciclagem.
Aumentar a conscientização sobre os impactos do lixo eletrônico perigoso e melhorar a implementação da legislação sobre responsabilidade ampliada do fabricante na Nigéria estão entre os primeiros passos dados pelo governo e parceiros nigerianos sob o enfoque da Economia Circular para o projeto do setor eletrônico.
O projeto também contribuirá para o desenvolvimento dos melhores casos e abordagens para a implementação da Economia Circular na Nigéria e na África. O diretor-geral da Agência Nacional de Normas Ambientais e Regulamentação da Nigéria, Aliyu Jauro, está confiante de que a iniciativa “sensibilizará os trabalhadores, adotará as melhores práticas, apoiará o setor privado e levará a Nigéria a uma abordagem de economia circular no setor de lixo eletrônico”.
Fonte: ONU Brasil