Brasil é o maior reciclador de alumínio do mundo
Levantamento recente mostra que o país tem muito a caminhar em direção a uma realidade mais sustentável
Como vai a reciclagem no Brasil? Boa parte da população até tem uma noção das cores básicas: azul para papel, vermelho para plástico, verde para vidro, amarelo para metal e marrom para orgânicos. Mas em muitos casos, para por aí.
Muito dessa realidade corresponde ao baixíssimo índice de reciclagem de plástico. Um levantamento realizado pelo Selurb (Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana), aponta que o Brasil perde cerca de R$5,7 bilhões anualmente por não reciclar o plástico. Oi? É isso mesmo. O país produz mais de 78,3 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano, sendo que 13,5% (o equivalente a 10,5 milhões de toneladas) são apenas plástico.
Só para que você tenha uma noção dessa dimensão, segundo dados do IBGE, em 2018, produziremos três vezes mais lixo plástico do que grãos de café!!! Assustador, certo?
Brasil lidera na reciclagem de alumínio
Apesar do enorme desperdício de plástico, você sabia que o Brasil é o maior reciclador de alumínio do mundo? Pois é, quando se trata de latinhas de bebidas, o Brasil é líder mundial. De acordo com a ABAL (Associação Brasileira do Alumínio) e a Abralatas, em 2016, o Brasil reciclou cerca de 280 mil toneladas de latas de alumínio, atingindo um índice de reciclagem de 97,7%, o que mantém o país entre os líderes mundiais no segmento desde 2001.
No mundo, aproximadamente 75% desse tipo de material é reciclado.
Mas antes de sairmos comemorando mais um “título mundial”, precisamos falar sobre as condições que levam a esse cenário. Algumas características mostram que essa goleada foi feita em campo de várzea. O alumínio é um material infinitamente reciclável e mantém quase a mesma qualidade do material original, diferentemente do plástico e do papel, que quando reciclados perdem um pouco de sua qualidade.
Além disso, o material tem um ciclo muito rápido de recuperação – em 30 dias, uma latinha pode ser comprada, usada, coletada, reciclada, virar latinha de novo e voltar ao supermercado. Latinhas de alumínio tem disponibilidade de distribuição por todo o território nacional, sem interrupções sazonais e sua coleta e compactação são simples de realizar, fatores que somam pontos a favor.
Apesar de todos outros fatores, talvez o que mais influencie em sua taxa de reciclagem é que o alumínio tem um alto valor de mercado, sendo um material valioso e que possui interesse de diversos setores do mercado, como a indústria automobilística e construção civil, para a produção de componentes elétricos e outros bens de consumo, além das próprias empresas que fabricam o alumínio.
Uma pesquisa realizada em 2014 pelo Cempre (Compromisso Empresarial para a Reciclagem), revelou que o preço da latinha de alumínio é o dobro do preço do PET, do plástico rígido e do plástico filme, cinco vezes o preço do papel branco, oito vezes o preço do vidro, 14 vezes o do papelão e 17 vezes o preço da embalagem longa vida.
Essa realidade nos mostra que, apesar de sermos os líderes mundiais da reciclagem de alumínio, a prática não está acontecendo por consciência ambiental ou adoção de atividades sustentáveis do país, mas sim, pela condição econômica da população, que depende muito da renda advinda do material. Catar e reciclar alumínio se mostra como uma das poucas maneiras viáveis de ganhar dinheiro para a população de camadas econômicas mais inferiores do país. O fato de todos os outros materiais terem um nível de reciclagem muito menor ao alumínio evidencia como a “supervalorização” do alumínio influencia em seus altos índices de reciclagem.
Enquanto não houver incentivos para maior reciclagem desses outros materiais, é improvável esse cenário mudar no país. Dificilmente alguém irá desprender seu tempo na reciclagem de papel ou plástico, por exemplo, sendo que não existe um retorno econômico viável ao trabalho.
As empresas e o governo devem estabelecer metas para fomentar o mercado desses materiais, pois senão quem paga por isso é a sociedade, que vai sofrer com o inevitável acúmulo de todo o tipo de material (menos o alumínio) rejeitado pela sociedade por sua falta de valor.
Fonte: Folha, Jornal do Brasil, Correio, Jornalismo Especializado Unesp.
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