O difícil desafio de despoluição do Rio Pinheiros
Apesar de parecer uma “missão quase impossível”, experiências anteriores demonstram que é possível realização do projeto
Ao final de 2019, o governo da cidade de São Paulo anunciou o plano de despoluição do Rio Pinheiros até o final de 2022. O projeto prevê investimentos de R$ 2,5 bilhões para obras de saneamento, incluindo infraestrutura de saneamento, na bacia de um dos principais rios da cidade. Os financiamentos permitirão a execução de obras rumo à universalização da oferta de água e do sistema de esgoto nas regiões de maior vulnerabilidade social, impactando diretamente na despoluição dos principais rios da metrópole.
“Os investimentos englobam os rios Pinheiros e Tietê. Nosso compromisso prioritário é despoluir o Rio Pinheiros e entregá-lo limpo à população da cidade de São Paulo até dezembro de 2022. O Rio Tietê é mais complexo, vai levar um período mais longo para ser despoluído, mas o trabalho é contínuo”, disse o governador da cidade de São Paulo, João Dória, na ocasião em que foi anunciada a assinatura dos quatro primeiros contratos com as empresas que estão iniciando parte dos pacotes de obras do Novo Rio Pinheiros.
Apesar da premissa ser excelente, já vimos outras vezes a promessa de despoluição dos rios de São Paulo e no entanto, não sair do papel. Será que uma vez degradado, um rio não consegue ser recuperado?
Rio Jundiaí, um grande exemplo de recuperação
O Rio Jundiaí é um curso d’água com uma extensão de 123 quilômetros, o qual dá nome a uma das cidades mais simpáticas do interior paulista. No entanto, há 30 anos atrás, esse rio não tinha nada de simpático….
Ainda nos anos 80, o Rio Jundiaí foi enquadrado na classe 4, que significa quase morto, de acordo com a Resolução 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que segue uma escala de 1 a 4 – quanto menor o número, mais rígida é a fiscalização e, por consequência, a penalidade pelo descumprimento das leis.
No entanto, nos últimos 50 anos, o rio vem passando por um meticuloso processo de tratamento e recuperação. De acordo com o diretor da Companhia Saneamento de Jundiaí (CSJ), Luiz Pannuti Carra, o trabalho de despoluição do Rio Jundiaí foi um longo processo que começou em 1984. “No começo dos anos 1980, o Rio Jundiaí era mais poluído que o Rio Tietê, nessa época, um jornalista da cidade [Jayme Martins] desafiou os candidatos a prefeito a incluir a limpeza do rio na sua plataforma de campanha”, afirmou.
E o desafio foi aceito! Em 1983, deu-se a criação do Comitê de Estudos e Recuperação do Rio Jundiaí (CERJU), entidade que trabalhou em várias frentes para a recuperação do rio. De acordo com Luiz Pannuti Carra, o CERJU arrecadava dinheiro das entidades e decidia conjuntamente aplicar dinheiro em canalizações e em tratamento, o que foi muito importante. Ainda de acordo com o diretor o trabalho de despoluição depende das características locais dos municípios. “O básico é canalizar o esgoto das cidades até a estação de tratamento e fazer um tratamento do esgoto, você pode fazer estações maiores ou menores, existe uma variedade econômica do tratamento, conforme a característica do esgoto. O importante é fazer um estudo e ver qual se adequa mais a sua situação local, não existe uma solução para todos e também tem uma questão estrutural”.
Em Jundiaí, segundo ele, foi encontrada uma solução mista com apoio do Departamento de Água e Esgoto SA (DAE), uma empresa municipal, que faz o fornecimento de água tratada e coleta o esgoto em conjunto com a concessionária responsável pelo tratamento do esgoto gerado pela cidade, incluindo indústrias e comércio. Atualmente, a cidade tem três Estações de Tratamento de Esgoto, nos bairros Jardim Novo Horizonte, São José e Fernandes.
“Essa empresa construiu a Estação de Tratamento de Esgoto de Jundiaí (ETEJ) que, por muito tempo, foi a maior no interior de São Paulo. Essa estação vem operando desde 1998 e, em cinco anos, já tivemos uma surpresa bem interessante que foi a volta do peixe jundiá ao rio, uma espécie de bagre”.
Hoje, o Rio Jundiaí tem peixes e é considerado classe 3, quando as águas podem ser destinadas ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado. Segundo Carra, o trabalho não para. “O rio já tem vários peixes, ainda não é um rio para nadar, mas é um rio que dá para se orgulhar, é um trabalho que não para, ainda tem tratamento para fazer”, completou.
Fonte: Agência Brasil