Custo para remediar poluição gerada por lixões no Brasil supera os R$ 730 bilhões
Nos últimos 10 anos, o preço da destinação ilegal fica até 38 vezes mais cara que a ambientalmente correta
“Ué, mas que mal vai fazer eu descartar um sofá velho em um lixão?”. Essa é a pergunta que vale um milhão de reais. Bem, na verdade, o valor exato é R$ 730 bilhões.
Esse é o tamanho da dívida que o Brasil acumulou nos últimos 10 anos com a falta de combate à destinação irregular de resíduos. O cálculo, realizado pelo Departamento de Economia do Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana (Selurb), considera apenas os custos para remoção desse lixo, descontaminação do solo e o direcionamento do material para um aterro sanitário (equipamento adequado para a recepção e tratamento de resíduos). Ou seja, os danos à saúde, impactos sociais e econômicos não entraram na conta (imagina se entrassem?)
A entidade que realizou o estudo considerou a média anual de 29 milhões de toneladas jogadas diretamente no meio ambiente, sem quaisquer mecanismos de proteção do solo ou do lençol freático. Só em 2017, dos 71,6 milhões de toneladas de lixo coletados no país, 40% foram para lixões ou aterros controlados, de acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil.
Portanto, se o Brasil resolvesse remediar toda a poluição gerada por lixões e pontos irregulares de descarte teria que desembolsar um valor que supera R$ 730 bilhões. Tá fácil, né?
Aterros sanitários: solução mais adequada e barata para o Brasil
Se formos comparar o mesmo volume de toneladas de resíduos, o preço da recuperação de uma área de lixão chega a ser 38 vezes mais caro do que a destinação ambientalmente correta (aterro sanitário). Em poucas palavras, destinar os resíduos para um aterro sanitário é consideravelmente mais em conta do que recuperar uma área de lixão.
Para o engenheiro Carlos Rossin – especialista em sustentabilidade e coordenador de diversos estudos sobre gestão de resíduos sólidos – a solução para o Brasil é criar aterros regionalizados que possam atender a grupos de municípios.
“Vivemos em um país de tamanho continental, composto por 5.570 municípios, sendo 90% destes com população inferior a 50 mil habitantes. Portanto, temos dois grandes desafios para trazer a viabilidade ao sistema do ponto de vista logístico: percorrer grandes distâncias e transportar pequenos volumes. Por isso, a solução regionalizada é a mais adequada. Estudos mostram que se o Brasil construir novos 448 aterros sanitários (hoje são 679), poderá fechar os cerca de 3 mil lixões atualmente em operação”, afirma Rossin, que foi diretor de Sustentabilidade da PwC e conselheiro do Pacto Global em São Paulo.
Raio X dos resíduos
APolítica Nacional de Resíduos Sólidos previa que a partir de 2014 não haveria mais lixões no Brasil, mas meta ainda não foi alcançada. A Folha de S. Paulo desenvolveu um infográfico sobre a realidade do lixo no país. Veja: