Fora das ruas, dentro do mercado de trabalho
O programa Trabalho Novo, da Prefeitura de São Paulo, busca reinserir no mercado de trabalho pessoas que vivem nas ruas da cidade. A ideia é garantir uma vida digna e reintegração social. Na primeira quinzena de julho, a empresa Inova – uma parceira dessa iniciativa – promoveu um encontro em sua sede, na Mooca, para entregar 40 kits (cuecas, meias, kit higiênico, entre outros) aos participantes do projeto. O Movimento Lixo Cidadão não poderia deixar de registrar esse momento. Batemos um papo com três novos integrantes. Leia a seguir!
Sandro Amaroti, 45 anos.
Como você vê essa possibilidade de se recolocar no mercado de trabalho?
Vejo como uma oportunidade. É a primeira vez que trabalho registrado, então eu estou gostando bastante. Meu próximo plano é seguir em frente e sair do albergue. Mais pra frente, queria descer para minha cidade – São Vicente – e ficar com minha família. Tenho vários amigos no projeto, umas quatro ou cinco pessoas. Além disso, tem mais quatro pessoas que gosto muito e queria que conseguissem entrar.
O Projeto melhorou sua perspectiva de vida?
Muito! Não faz tanto tempo que estou na rua, faz cerca de dois anos. O Projeto melhorou minha vida, sem sombra de dúvida.
Laís de França Almeida, 23 anos.
Como é a relação com os novos colegas de trabalho?
É amigável, atualmente. Teve um tempo que eu estava meio desgostosa e queria desistir, mas o pessoal da Inova disse que sou guerreira. Isso me deu força de vontade para continuar. No futuro, quero muito voltar a estudar porque parei na sétima série.
Teria alguém que gostaria de ajudar a sair da rua?
Sim, tenho amigas que passam por dificuldades e queriam esse apoio. Se tivessem essa oportunidade, seria maravilhoso. Minha vida melhorou muito. Agora tenho meu apartamento, uma cachorrinha – a Lara – e moro sozinha. O que eu ganho hoje no trabalho dá para me manter. Não tenho vergonha de vestir uma roupa de gari, tenho é orgulho. Como perdi minha mãe no meu parto, só tenho meu pai. Para ele, é Deus no céu e eu na terra. Isso é muito gratificante.
Ezdra Morais Silva, 59 anos.
Como tem sido atuar na limpeza urbana de uma cidade como São Paulo?
É uma alegria trabalhar nessa empresa e ter sido capacitado pela Rede Cidadã. Eu estava desempregado há cinco meses e fiquei muito contente com a possibilidade, apesar de não estar dentro da minha função. Sou pedreiro, pintor, eletricista… Tudo um pouco (risos). Há muita gente para agradecer. Pretendo montar uma pequena empresa de elétrica, na verdade de construção em geral, aqui em São Paulo mesmo. Em seguida, penso em trazer minha família.
Como foi se reinserir no mercado depois desse período à procura de emprego?
Quando estamos sem trabalho, andamos cabisbaixos. Mas aí quando encontramos, levantamos a cabeça e pensamos: poxa vida, dei a volta por cima!
Saiba mais:
De acordo com um dado recente da Prefeitura de São Paulo, cerca de mil pessoas que viviam em situação de rua foram reinseridas no mercado de trabalho. Estima-se que a capital paulistana conte com 20 mil moradores nessa mesma condição. Atualmente, o Trabalho Novo oferta 5.500 vagas que foram viabilizadas por meio de parcerias com empresas de diversos segmentos como a Unilever, G4S, Guima, Centro, McDonald’s, Sabesp, Ecourbis e Inova.
De acordo com Cláudia Fernandes, gerente de gestão de pessoas da Inova, a meta é expandir o projeto, após os bons resultados. “É uma forma de reintegra-los à sociedade e dar uma oportunidade melhor de vida. Conseguimos empregá-los com carteira assinada, dando todos os benefícios e também assegurando direitos trabalhistas”, afirma.