Logística reversa? 5 passos para o Brasil reciclar o lixo eletrônico
Exemplo japonês pode e deve ser adotado para o nosso país avançar na prática
O Japão é conhecido por ser um dos líderes mundiais em tecnologia de ponta, mas também pela consciência de sua população sobre a gestão do lixo. Os japoneses ficaram famosos mundo afora, quando na última Copa do Mundo, foram vistos recolhendo os resíduos produzidos nos estádios após o jogo de sua seleção.
Mas essa conscientização não é apenas “em frente às câmeras”. A cultura do país já tem esses traços enraizados e, desde pequenos, eles são orientados e educados a serem responsáveis pelo lixo que produzem. Por exemplo, nas escolas, não existem funcionários de limpeza. São os próprios alunos que limpam os colégios. Lixo nas ruas? Nem pensar. E, além disso, a coleta seletiva começa na casa dos cidadãos, onde eles separam as embalagens do orgânicos, o que garante melhores taxas de reaproveitamento dos materiais.
Próxima cidade a receber os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, em 2020, Tóquio terá medalhas produzidas a partir de lixo eletrônico. A cidade, inclusive, já bateu a meta estabelecida para o uso de metais preciosos extraídos de resíduos tecnológicos nas condecorações que serão entregues nos Jogos.
Do outro lado do globo, o Brasil produz, em média 1,5 milhão de toneladas de lixo eletrônico por ano, que poderia voltar para a cadeia produtiva e gerar novos produtos. Mas isso ainda não acontece. Quando levamos em consideração o volume mundial, chegamos a 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico anuais – material avaliado em US$ 60 bilhões.
Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), agência integrante das Nações Unidas, dão conta de que apenas 20% do lixo eletrônico é formalmente reciclado em todo o mundo. “A reciclagem no Brasil tem potencial para criar uma nova indústria e impactar positivamente nossa economia. Temos diversas atividades e empregos que podem ser gerados nesta cadeia que está se desenvolvendo, muito em função dos sistemas de logística reversa que estão sendo criados. Estamos ainda estruturando a infraestrutura para coleta e reciclagem de produtos como eletrônicos, pilhas e embalagens, mas, sem dúvida, esta é uma ótima oportunidade para incorporar os conceitos da economia circular neste modelo e aproveitar o potencial que temos para transformar o Brasil em uma referência no assunto”, destaca Henrique Mendes, gerente de sustentabilidade da Abinee e coordenador de logística reversa de eletroeletrônicos da Green Eletron.
Mas de que maneira a experiência japonesa pode ajudar o Brasil?
Mendes listou para a Revista Forbes 5 lições para ajudar a implementar iniciativas de reciclagem de lixo eletrônico no país.
1. Controle dos dados
“O primeiro passo para a gestão dos resíduos eletroeletrônicos é ter uma estimativa do total gerado no país. O Japão elencou quatro itens prioritários para realizar a coleta e a reciclagem. Destes itens, eles sabem exatamente a quantidade despejada no mercado e atualizam sempre a estimativa de resíduos. A partir daí saem as metas de coleta”.
2. Cultura de economia circular
“Os japoneses já internalizaram a mudança radical de ponto de vista e não conseguem mais enxergar produtos descartados como resíduo. Quase tudo é tratado como recurso a ser recuperado e a população tem uma atuação ativa neste sistema”.
3. Legislação
“As leis são revisadas em ciclos de cinco anos, para prever os aprendizados, ajustes e atualizações necessárias. As leis de resíduos são criadas pensando sempre em como recuperar os recursos e não apenas em como fazer a gestão tradicional de resíduos. Os japoneses buscam simplificar a operação (e licenças) para empresas que se cadastram em sistemas oficiais de coleta, promovendo a formalização dos atores da logística reversa”.
4. Isonomia
“Tanto no Japão, quanto em outros países que possuem modelos de gestão dos resíduos eletrônicos, mostrou-se fundamental a necessidade de ter um registro de todas as empresas que fabricam ou importam produtos que serão comercializados. Tal registro é fundamental para que todas as empresas demonstrem cumprimento às leis vigentes”.
5. Respeito e conscientização
“Os sensos de respeito e de organização dos japoneses realmente impressiona e são valores indispensáveis. O conceito de sociedade deles é tão forte que dispensa a necessidade de se criar uma série de leis. Eles mudam seus hábitos e agem de modo correto e honesto porque já compreenderam que é o melhor para a sociedade. Todos saem ganhando”.
Fonte: Forbes